MediaScan: Giant Waves
2011 – 2013, archival pigment print (on paper and on silk), 20×60 in / 51×152 cm
Critical text by Marcio Harum – in Portuguese: Deus Ex-Machina
These still photographs originated from YouTube testimony videos of the Japanese Tsunami in 2011. In order to be able to engage with these violent moving images I need to freeze them in time, to slow them down, to neutralize them. The moving videos were scanned for two minutes with a hand scanner. I was thinking about how the collective images we found on YouTube helped to create the memory we, as outsiders, will have from this catastrophe. At that time there was already a much higher number of handycams and cellphone cameras recording the event than the number of TV cameras and reporters, so possibly this is the historical mark showing that the balance between personal testimony and the official history had shifted.
These images highlight the large impact that home made videos have gained in the construction of the official narrative and their slowly increasing influence over the images we see on the big media. The photographs at first sight show peaceful ghostly abstract landscapes almost monochromatic, revealing in closer look rests of color and digital artifacts. In all of them I still see both images: the peaceful landscapes and the movement of natural violence and destruction.
The MediaScan process was first created during my research at the Academy of Media Arts in Cologne (KHM), 2003. This series was acquired by the Collection of the City of São Paulo.

At Centro Cultural São Paulo, São Paulo, 2013. Exhibition MediaScans: Giant Waves, curated by Marcio Harum. Photos by Sosso Parma.

At the Atlanta Contemporary Art Center, Atlanta, 2012.
Anexo 15, Do Catálogo do Programa de Fotografia 2012-2013: Conversação com Marcia Vaitsman (Harum & Vaitsman, 2013)
Marcio Harum: Marcia, você que já manipulou em teu trabalho imagens acerca dos ataques norte-americanos ao Iraque, gravações de noticiários televisivos da Guerra do Golfo (1991), [sic – de 2003] desse primeiro conflito bélico transmitido pelas redes televisivas dos Estados Unidos, em que explosões dos bombardeios confundiam-se com os raios noturnos do laser das câmeras dos cinegrafistas, causa de tão estranha qualidade de vídeo, e que pelas circunstâncias, aproximava-se aos efeitos especiais da ficção científica – quando nada parecido ainda havia sido visto anteriormente em escala mundial, tanto pelo telejornalismo, quanto pela massa de telespectadores. É curioso perceber como você retoma e atualiza com a tua mostra “Giant Waves”, para a 4a Mostra do Programa de Fotografia 2012-13 do CCSP, o poder imagético da mídia online, e que pode ser deflagrado a partir de um simples scan portátil de uso doméstico e notebook, utilizando-se de vídeos do Youtube sobre o tsunami no Japão em 2011. Outro fator que chama bastante a atenção quanto aos modos de exibição dos teus últimos projetos é a duração e os tempos dos processos, já que você vem se dedicando a trabalhos que te envolvem e te exigem em média até dois anos para a realização. Me dá vontade de te perguntar: no que você anda trabalhando neste momento? E para onde você quer que o teu trabalho te leve, ou melhor, para que direção gostaria que o teu trabalho caminhasse? Com o que, e como, imagina ou deseja, estar trabalhando nos próximos anos?
Marcia Vaitsman: Marcinho, um dos aspectos mais importantes no estudo das imagens sobre a segunda invasão ao Iraque, foi que chegavam ao vivo à nossa sala. Existe uma trajetória da Segunda Guerra Mundial ter passado pelo cinema, da guerra do Vietnã ter sido noticiada diariamente nos Estados Unidos pela TV, e em 2003 houve a invasão em tempo real. Se há um prosseguimento como esse, vejo em uma guerra futura os gamers contribuindo para a inteligência de estado, buscando pessoas, informações, armas e documentos, em modelos de cidades reprogramadas em tempo real. Algo como uma guerra usando crowdsourcing, ou talvez chamado de crowdstriking, ou algo do gênero. Penso muito no futuro, mas a única maneira que tenho para fazer isso sem virar uma lunática, é observar a movimentação de grupos pequenos e grandes de pessoas; e indivíduos. Passo um bom tempo do meu dia a dia a observar gente, leio jornais em diversos idiomas, leio muito, assisto a TV de países variados. Acho que as coisas e acontecimentos estão conectados, apesar de saber que a mídia reflete pouquíssimo a realidade. Aí entra a motivação para se trabalhar tanto tempo em novos projetos, pois preciso ver novos lugares, falar com as pessoas. Já faz tempo em que saí da fase de fazer projetos em que a pesquisa se resumia apenas a buscas no Google. Meu trabalho me levou a ver o mundo, e sou muito grata por isso. As viagens me levam a entender o grau de artificialidade da mídia, da fotografia, e mesmo de relatos pessoais sobre situações e lugares. Imagine se isso não me fascina ainda mais? Quando me refiro a media art sempre estou falando de um tipo de arte que existe a partir dessa contradição da artificialidade da imagem da mídia versus a realidade crua da terra, da água, do ar, do corpo, do bicho, da fome, da violência, da morte. O meio usado ao final do processo me interessa cada vez menos – se usa tecnologia de 2014 ou se é tecnologia egípcia de 4 mil anos, papel, ou se é tecnologia chinesa de 5 mil anos atrás, a seda. Talvez isso pareça confuso para algumas pessoas porque, como se previa na ECA-USP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo) no início dos anos 1990, hoje todo o mundo compõe um sistema de mídia (curadores, escritores, artistas de vídeo, fotógrafos do dia a dia), o que fez meu trabalho ser mais fácil de ser finalizado, por um lado, e, por outro, muito mais difícil. Fácil, porque o volume de produção é maior (mais lixo e mais coisa boa) e difícil porque é complicado esperar que pessoas parem e questionem a artificialidade do que elas mesmas produzem sem um pensamento crítico de base. Ainda sobre o futuro, gosto de que as pessoas plantem árvores, para que seus netos possam dormir a sua sombra… É quando os tempos (tense) se mesclam. Interessa-me muito a ideia de time leaking também. O vídeo me dá a ilusão de sobrepor tempos, principalmente aqueles não narrativos-lineares. Giant Waves, a mostra do CCSP, exemplifica tudo que mencionei até agora. Primeiro, lido com uma situação de ficção científica japonesa, em que no final há sempre o poder da destruição total: “2011. Há uma série de terremotos, uma onda tsunami que gera a ameaça de catástrofe nuclear de magnitude planetária”. A abertura de um roteiro de ficção científica poderia ser assim. Porém, quanto a estes fatos da vida real, até agora a ciência ainda não entrou em cena, a ameaça é permanente, depois de já passados mais de três anos desde a catástrofe. Neste momento estou trabalhando em três projetos, e vou falar deles desde o menos complexo, até o mais complexo. O primeiro prevê a construção de um parque dentro de uma galeria, em que abordo os temas do caos e da ordem, base da teoria dos jogos. Inspiro-me nos elementos numéricos que organizam o caos, e nos elementos básicos de um parque infantil, como bolas gigantes transparentes, balanços cor-de-rosa e dourados e grandes tubos para as pessoas moverem-se por dentro deles. Park#1 fica instalado em Atlanta (EUA), a partir de março de 2014. O segundo projeto chama-se 10 dias em isolamento – e se trata de uma volta ao meu tema do corpo sozinho em espaços abertos, e da mente isolada da informação, da rede, da artificialidade. Esse trabalho nasceu a partir de experiências onde me encontrei isolada, depois de um acidente no mar. Estive ao longo de três semanas gravando no deserto, e posteriormente, durante mais de dez dias, permaneci em silêncio em um retiro budista. Este trabalho conforma uma série de fotografias, vídeos e alguns objetos – sem data de finalização. O terceiro projeto é gigantesco, foi iniciado em 2011 e se chama Heisenberg Boulevard. Conseguimos verba para boa parte dele, mas ainda falta um tanto e também não há data definida para o término e a entrega dele. Viajamos, eu e Seana Reilly, minha parceira de projeto, por mais de 6 mil km para capturar imagens em vídeo.
MH: Como o espaço de nossa conversação a ser incluída no catálogo do Programa de Fotografia é limitado, sugiro que sigamos com ela, para publicação integral no website do CCSP. Até breve. / Atlanta, São Paulo, Madri, Algarve/ Fevereiro e março de 2014/ Marcio Harum.